Antes de começar, precisamos entender que relacionamento abusivo não está relacionado somente à agressões físicas ou sexuais. Existem relacionamentos abusivos de vários tipos e não apenas entre casais. Podem ocorrer entre amigos, familiares e no ambiente profissional.
O relacionamento abusivo é tido como comportamentos e atitudes praticados por umas das partes com a intenção de desmerecer e/ou para limitar a vida e a autonomia do outro, gerando uma desigualdade de poderes, já que existe uma pessoa oprimida e um opressor.
A abusividade começa com pequenos sinais: controle, manipulação, ciúme, isolamento da pessoa do seu meio de convívio (familiar, trabalho, amigos), diminuição da autoestima, desqualificação da vítima e/ou o controle financeiro.
A violência, quando não há agressão física, é de difícil reconhecimento, pois está naturalizada pela nossa sociedade, que enxerga as pessoas como algo a ser conquistado e que enxergam o outro como propriedade. Os comportamentos são considerados inocentes, de proteção, demonstrações de "amor" e apenas “sugestões” de mudanças de comportamento.
Dentro da cultura que estamos inseridos, é muitas vezes considerado natural controlar crenças, comportamentos, amizades, gastos, roupas e compromissos das pessoas próximas ao nosso convívio. Esse tipo de atitude não é vista como uma forma de ultrapassar o espaço do outro e inferiorização da vítima.
As formas mais comuns de violência acontecem por meio da humilhação, desqualificação, com relação à vítima e com relação àqueles que ela ama, controle disfarçado de preocupação, bullying, cobranças, elevação do tom de voz, falas com entonação de imposição exercendo comando, ameaça econômica - como se a vítima não tivesse capacidade sobreviver sem o dinheiro do abusador e depreciação.
Existe um padrão de comportamento que caracteriza essa relação, chamado de Ciclo do Relacionamento Abusivo.
TENSÃO
Primeiro, o abusador eleva a tensão entre o casal por meio de algum conflito.
Geralmente, ocorre uma interrupção repentina na comunicação ou ele dá sinais de que algo o desagrada. Tal comportamento gera confusão mental, culpa e medo na pessoa que está sofrendo o abuso, então esta passa a tentar compensar, acalmar ou reverter a tensão.
INCIDENTES
Nessa fase, ocorrem “incidentes” de violência verbal, emocional ou física (ofensas, xingamentos, intimidação, brigas, ameaças, gritos, cara fechada, empurrões, tapas, vitimização e culpabilização).
RECONCILIAÇÃO
Quando a pessoa que sofre abuso diz a si mesma que não irá permitir que aquilo tudo aconteça novamente algo acontece: o abusador pede desculpas ou culpa a vítima por seu comportamento, alegando que a vítima agiu de modo que o fez perder o controle. Podendo ainda negar que o abuso aconteceu ou diminuir a gravidade do “incidente”. Então, a vítima passa a se esforçar para que novos “incidentes” não ocorram ou para não desagradar o abusador.
CALMARIA
Depois de toda essa turbulência e sofrimento, vem a “lua-de-mel”. Se inicia um período de pausa dos comportamentos abusivos, fazendo com que a vítima pense que exagerou em suas conclusões e sentimentos em relação à tensão e ao “incidente” e julgue como erradas suas razões para pensar mal do abusador. Logo, a relação se fortalece novamente.
Esse ciclo vai se repetindo e o abuso aumentando.
Como sair desse relacionamento abusivo?
Quem nunca ouviu que a pessoa permanece em um relacionamento abusivo porque “gosta de apanhar!”, “não tem vergonha na cara!”? Eu já, inúmeras vezes!
Porém, sair de um relacionamento abusivo não é tão simples quanto parece, pois envolve diversos fatores:
os abusos podem acontecer de formas não evidentes;
a vítima vai aumentando sua tolerância ou minimizando às violências, mesmo elas expandindo e se tornando mais frequentes;
a vítima começa a se culpar pela situação;
a vítima busca justificativas para o comportamento do abusador;
reconhecer os abusos é difícil e doloroso;
muitas vezes a vítima pode ser desacreditada por várias pessoas (amigos e familiares);
a vítima pode não ter condições financeiras de se manter e de sustentar seus filhos;
a vítima acaba acreditando ser incapaz de cuidar de si mesma.
Muitas vezes a vítima reconhece que sofre abusos e, ainda assim, não consegue sair. Outras vezes ela nem mesmo sabe, pois acredita que aquilo faz parte de um relacionamento.
Buscar ajuda profissional é fundamental para que a vítima tenha consciência de que está vivenciando uma relação abusiva e que é capaz de sair dela.
O tratamento psicológico com vítimas de relacionamento abusivo consiste em acolher seu sofrimento sem julgamento, desconstruir estereótipos e conceitos estabelecidos, buscar formas saudáveis de se relacionar consigo mesma, resgatar a autonomia, a autoestima, o empoderamento e as potencialidades das vítimas.
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